top of page

Cognição, informação e o ambiente ao seu redor

Atualizado: 4 de jun.



Cognição como um fenômeno situado, incorporado e distribuído — o que você pensa desta abordagem?
Cognição como um fenômeno situado, incorporado e distribuído — o que você pensa desta abordagem?

Você está imerso em informação. E não estamos falando do celular.

Há muito mais para a sua percepção do que o que chega pelos seus dispositivos: sua cognição é impactada também pelo ambiente físico que você vivencia.


Cognição e a construção do (seu) mundo

O conjunto de processos mentais responsáveis pela percepção, atenção, memória, linguagem, tomada de decisão e execução de ações, ou seja, tudo o que seu cérebro faz para entender, lembrar, decidir e agir, constitui sua *cognição*. É através dela que você transforma em experiência e conhecimento tanto o mundo ao seu redor quanto as suas interações com ele.

Por muito tempo, acreditou-se que estes processos aconteciam apenas na mente. Hoje, cada vez mais a cognição é entendida como um sistema que envolve também o corpo e o ambiente em que estamos inseridos.

Essa forma mais abrangente de entender o funcionamento mental é especialmente relevante quando analisamos a atenção, uma ponte estreita — porém firme — entre fatores internos da nossa mente e o contexto ao nosso redor.


Ambiente como fonte de informação

A cognição é sistemicamente conectada ao ambiente.

Na sua vivência cotidiana, pensar e agir são processos integrados: o ambiente não é apenas um cenário onde o pensamento acontece, ele é parte da rede de estímulos que afeta você constantemente.

O que está ao seu redor influencia o que você percebe, como você pensa e como se comporta.

E isto faz todo o sentido!

Pense no incômodo com a bagunça, capaz de desmotivar sessões de estudo ou trabalho, ou naquele cansaço que precipita decisões. Pense nos objetos que você adora olhar porque são inspiradores para você, ou nas novas ideias que só aparecem depois que você consegue se acalmar diante de um novo problema. Corpo e ambiente são indissociáveis dos seus processos mentais.

E já que estamos aqui para falar sobre atenção, pense bem: você utiliza seu ambiente a favor da sua atenção?


Ambiente como meio contrastante

Sua atenção tem um apetite especial por contraste.

Em meio a enxurrada de estímulos que alcançam você constantemente, sua atenção funciona como um radar seletivo. É ela que escolhe onde colocar seu foco, definindo quais informações vão entrar na sua mente e acionar os demais processos cognitivos, como memória e decisão.

E a sua atenção é direcionável, o que é uma ótima notícia.

A atenção é naturalmente atraída pelo contraste. Nosso cérebro evoluiu para detectar diferenças, mudanças e elementos que se destacam no ambiente — um mecanismo que nos manteve seguros por milênios e que continua moldando nossa percepção cotidiana.

É assim que o ambiente físico pode ganhar um papel estratégico no seu planejamento. Afinal, quando a maioria das informações está concentrada em telas, o espaço ao seu redor se torna um meio contrastante na sua vivência cada vez mais digital.telas, o espaço ao seu redor se torna um meio contrastante na sua vivência cada vez mais digital.

E este contraste, por exemplo, entre a anotação guardada (oculta até o próximo acesso, como no celular) e a anotação exposta (sem etapas para visualização, como na parede) gera uma oportunidade única para destacar os principais pontos do dia.


Ancoragem visual

Transformar seu ambiente físico em um aliado informacional não é apenas uma questão de organização, mas uma estratégia cognitiva sofisticada.

Através do mecanismo do contraste para direcionar e sustentar seu foco, é possível criar pontos visuais de ancoragem para sua atenção, privilegiando informações selecionadas.

Sua mente registrará essas informações repetidamente ao longo do dia, mesmo em momentos em que você não esteja ativamente buscando por elas.

E quando informações importantes permanecem nítidas na sua mente, você atravessa o dia com menos dúvidas e mais confiança, o que se traduz por maior resistência a distrações, mais calma diante de novos desafios e melhores decisões.

Exemplo prático: planner linear na parede

Além de contraste, o ambiente físico também proporciona amplitude.

A horizontalidade do planner linear, por exemplo, permite uma visualização contínua de anotações na linha do tempo que nenhuma tela ou página consegue oferecer.

Com esta continuidade, você enxerga padrões, conexões e relações temporais distantes, insights que ficariam invisíveis na fragmentação semanal ou mensal das agendas convencionais, tanto as digitais quanto as impressas.


Projetando ambientes que ajudam a pensar

Estruturar o espaço ao seu redor para guiar sua atenção significa também incrementar sua capacidade de direcionar e sustentar o foco.

Veja como um artefato físico pode atuar estrategicamente na sua rotina:

  • Ponto focal no ambiente: projetado e posicionado estrategicamente, um artefato físico modifica o ambiente e passa a funcionar como um ponto focal, ajudando a reduzir o impacto de outros elementos ambientais que possam gerar distrações. Ele se torna uma âncora na paisagem significativa ao seu redor.

  • Priorização imediata: através de um artefato projetado para destacar informação específica, a atenção é canalizada para o que importa e sem a necessidade de percorrer etapas.

  • Alívio da memória de trabalho: os itens destacados ganham presença visual, aliviando o esforço cognitivo do resgate mental.

Quanto maior é o volume de informações e processos que você guarda e gerencia digitalmente, maior é o potencial de impacto do seu ambiente físico como um meio contrastante para destacar informação no dia a dia.

E aproveitar esta estratégia ainda proporciona mais um ponto para o equilíbrio digital-físico na sua vida.


Referências:

CORBETTA, Maurizio; SHULMAN, Gordon L. Control of goal-directed and stimulus-driven attention in the brain. Nature Reviews Neuroscience, v. 3, p. 201–215, 2002.

NORMAN, Donald A. The design of everyday things. New York: Basic Books, 2013.

SPIVEY, Michael J. The continuity of mind. Oxford: Oxford University Press, 2007.

VARELA, Francisco J.; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. The embodied mind: cognitive science and human experience. Cambridge: MIT Press, 1991.

Posts Relacionados

Ver tudo

Comments


bottom of page