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Letramento informacional: uma competência mais libertadora do que nunca

Publicado também em medium.com

Gráfico fictício — mas estes dados fazem sentido para você? Deixe sua opinião!
Gráfico fictício — mas estes dados fazem sentido para você? Deixe sua opinião!

Há mais de 50 anos, o economista Herbert Simon, ganhador do prêmio Nobel de Economia, previu que teríamos problemas para lidar com o excesso de informação no futuro.

Uma abundância de informação gera uma pobreza de atenção. A wealth of information creates a poverty of attention. — Herbert Simon, 1971

E acertou em cheio.

Não foi por acaso que, na mesma época, o bibliotecário Paul Zurkowski sintetizou em duas palavras sua visão revolucionária sobre como nossa relação com a informação transforma nossa vida: information literacy, ou letramento informacional — que aqui chamaremos carinhosamente de LI.

LI, uma necessidade pessoal

Quando Zurkowski defendeu a urgência de educação na capacidade de lidar com informação, ele não estava falando de desinformação. Nem poderia. Este conceito sequer existia como o conhecemos. Na década de 1970, seu foco era a vida cotidiana: tomar decisões melhores, trabalhar de forma mais eficaz, aprender continuamente. A proposta era ensinar as pessoas a:

  • Reconhecer que precisam de informação;

  • Saber onde e como buscá-la;

  • Avaliar sua qualidade;

  • Aplicá-la na prática.

Essa competência permitiria, segundo ele, que mais pessoas “aprendessem a aprender” — uma habilidade essencial em um mundo em constante transformação.

Com o tempo, o conceito de letramento informacional foi ganhando novos contornos. No século XXI, com o crescimento da desinformação digital, ele passou a ser cada vez mais associado à defesa cognitiva.

Escolas, instituições e governos passaram a promovê-lo como ferramenta para reconhecer notícias falsas e perceber a manipulação algorítmica em redes sociais.

Hoje, o interesse ao LI cresce com o combate às fake news, mas seu propósito é muito mais amplo do que isso: o LI guia escolhas pessoais e coletivas, baseando-as em análise, comparação, contexto e propósito.

Como competência, o LI é essencial para se tomar decisões fundamentadas, reduzir ruídos mentais e até mesmo para conservar energia cognitiva diante do excesso de estímulos.

Alguns exemplos de como o letramento informacional pode impactar o dia a dia e transformar a vida das pessoas:

  • Estudantes que aprendem a complementar seu material de estudo;

  • Consumidores que aprendem a identificar produtos e promoções enganosos no mercado;

  • Idosos que aprendem a obter informações sobre aposentadoria e benefícios sociais;

  • Profissionais que aprendem a perceber e a comunicar melhor o que dizem os dados de seus relatórios;

  • Cidadãos que aprendem a pesquisar cláusulas em contratos, questionar diagnósticos ou avaliar políticas públicas.

Os exemplos acima não viram memes, nem geram likes, mas transformam rotinas, ampliam repertórios e criam autonomia de pensamento. Afinal, o poder da informação não está em sua existência, mas em sua aplicação.

Na nossa vivência diária, o letramento informacional é, antes de tudo, a base que nos capacita a controlar, sistematizar e utilizar de forma cada vez mais eficaz o que permitimos que entre na nossa mente. É um pilar fundamental para quem quer sair do modo reativo e assumir o comando crítico do próprio pensamento — e de sua atenção.

LI, uma necessidade social

Quanto melhor você lida com informação, não apenas beneficia a própria vida, mas também impacta positivamente situações ao seu redor, consciente e inconscientemente, direta e indiretamente — e isso eventualmente reverbera por toda a sociedade.

O que mais compartilhamos coletivamente, por exemplo, é o que mais ecoa online, determinando os assuntos e abordagens mais insistentes entre todos os estímulos informacionais que disputam a nossa atenção.

Não é irônico que, apesar de termos acesso a um volume indescritível de informação, estamos diariamente sob a mira dos mesmos temas, posicionamentos, personagens e crenças?

É preciso consciência e iniciativa para furar a bolha dos algoritmos e buscar novos horizontes no seu universo informacional.

Pensadores da época de Simon e Zurkowski não poderiam imaginar o abismo entre a quantidade e a qualidade das informações na nossa maior biblioteca, que é a Internet.

E, ainda assim, é o LI o que nos oferece esperança — e arsenal — contra imprecisões e desinformação, que se alastram entre nossos dispositivos digitais com o potencial de prejudicar direta e rapidamente toda a sociedade.

Quando você cai na armadilha, o algoritmo celebra, assim como muitos criadores de conteúdo que geram posts feitos exclusivamente para o seu engajamento, sem o menor comprometimento com a verdade.

Sabe aquele seu momento impulsivo de forte indignação?

Pois é.

Todo o sistema foi projetado para explorar justamente este ponto fraco: a pressa em reagir.

A desinformação não é acidente. É estratégia.

E sempre que você repassa informações sem verificar, corre o risco de compartilhar conteúdo falso e de ter não apenas seu discernimento, mas sua responsabilidade julgados por aqueles que identificam a falsidade, ou seja, aqueles que estão melhor letrados em informação do que você.

Sua mente gosta de ser enganada…

…e seu cérebro busca atalhos.

Uma combinação perigosa!

Certos tipos de informação abrem o apetite e baixam a guarda da sua cognição. Alguns estímulos muito explorados no universo da desinformação são:

  • Confirmações do que você já acredita;

  • Cenas revoltantes;

  • Notícias alarmantes;

  • Novidades supostamente ditas por alguém que você admira.

Em casos como estes, seu sistema de verificação interna simplesmente desliga.

Cabe a você religá-lo.

O custo de não verificar informação, seja qual for seu tipo e origem: online ou presencial, lida ou ouvida, pessoal ou pública

Quando repetimos imprecisões e inverdades, não somos apenas vítimas — tornamo-nos vetores. Cada repetição irrefletida de uma ideia, seja na internet, seja interagindo presencialmente no dia a dia, tem o poder de afetar decisões em diversas esferas, como saúde, política, finanças e relacionamentos.

É muito fácil atravessar a linha entre estar desinformado e desinformar.

E o que você ganha ao verificar antes de repetir?

Tempo para avaliar se vale a pena espalhar uma ideia e, se ela não for verdadeira, deixa de perder o tempo que usaria para desmenti-la.

Inteligência contra manipulação, uma habilidade treinável.

Credibilidade quando as pessoas entendem que você é criterioso com as informações que consome (o que também se reflete na forma como você fundamenta suas opiniões).

Influência: suas posições ganham peso referencial quando vistas com credibilidade.

Poder de decisão: quanto mais nítidos os fundamentos das informações que norteiam suas escolhas, mais ágeis e melhores são as suas tomadas de decisão.

A verificação de informação é uma postura estratégica que afeta todas as áreas da sua vida e representa a defesa da sua liberdade de pensamento.

LI na prática

Não existe um método universal para ensinar letramento informacional, mas há estratégias e frameworks consolidados que ajudam a estruturar esse processo de forma prática e adaptável a diferentes idades e contextos.

Dois métodos consagrados são o TheBig6, de Eisenberg & Berkowitz, voltado para o LI de forma abrangente, e o SIFT, de Caulfield, focado no combate a desinformação online.

Confira nosso guia rápido com questionamentos sugeridos para cada etapa destes dois métodos.

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