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Porque conversar com a IA é (também) conversar com você mesmo

Atualizado: 5 de jun.

Formular boas perguntas, ou melhor, instruções para a IA é um exercício de reflexão, organização mental e comunicação.

Entender isso é o que determina a qualidade das respostas no chat com a IA.

E se pensar bem neste processo, você verá ainda que conversar com o ChatGPT e seus amigos é, em grande parte…

…conversar com você mesmo.

A interação com a IA é também um processo metacognitivo: você precisa compreender o que já sabe, o que deseja saber, antecipar lacunas e armadilhas (incluindo alucinações da IA) e como articular isso de forma eficaz.

A “engenharia de prompts” (habilidade de formular interações eficazes com inteligências artificiais) representa uma nova forma de exercitar a metacognição, impactando a sua habilidade de planejamento e controle da atenção. E essas competências não se limitam ao contexto digital. Elas transcendem o uso de tecnologias e afetam diretamente todas as áreas da sua vida, incluindo o autoconhecimento, suas tomadas de decisão e sua produtividade.

Afinal, estamos atravessando tempos desafiadores para o pensamento crítico, a regulação atencional e o planejamento estratégico. E essas competências são cruciais não só para o seu desenvolvimento pessoal, mas também para o nosso desenvolvimento enquanto sociedade: negligenciadas, não são elas que direcionam, por exemplo, quais assuntos, abordagens e informações viralizam e determinam no que a sociedade foca — e no que não foca.

Metacognição

O simples ato de revisar um prompt ineficaz e reestruturá-lo com mais precisão já é, por si só, um exercício de pensamento metacognitivo.

Formular um bom prompt ativa a capacidade de refletir sobre os próprios pensamentos: você precisa saber o que sabe sobre o tema (e ter ideia do que não sabe) para poder avaliar as respostas da IA e formular novas solicitações à medida que recebe feedback.

Essa reflexão contínua sobre o próprio raciocínio estimula a autorregulação cognitiva (controlar seus próprios processos mentais, como a atenção e a memória, para se adaptar à situação e alcançar metas), um dos pilares da aprendizagem autônoma e eficaz.

Planejamento estratégico e controle atencional

Elaborar prompts eficazes também beneficia competências de planejamento e controle da atenção. Definir objetivos, organizar ideias e filtrar informações irrelevantes são etapas clássicas de um processo de planejamento estratégico, utilizado em projetos profissionais e acadêmicos.

E como você precisa manter o foco na conversa, resistindo a desvios e escolhendo o que aprofundar ou deixar de lado, seu controle atencional é alavancado no processo. E isso não é nada trivial, especialmente diante de respostas que podem trazer distrações, imprecisões, invenções e erros.

Novas competências

Saber interagir com IA não é mais apenas uma habilidade técnica, mas uma das novas competências imprescindíveis para qualquer profissional ou estudante.

Essa perspectiva é sustentada por estudos sobre o papel da IA na educação. Para Holmes et al. (2022), a interação produtiva com sistemas inteligentes pode ser vista como um catalisador para competências cognitivas mais amplas.

Quando utilizada de forma consciente, a IA pode estimular o aprendizado ao incentivar práticas metacognitivas eficazes.

Cognição, linguagem e atenção no século XXI: prompts como exercício metacognitivo

Se conversar com a IA pode ser visto como um exercício de escuta interna, a engenharia de prompts se torna um espelho cognitivo de não apenas o que se busca, mas de como se pensa.

Integrar essa prática ao cotidiano — seja na educação, no trabalho ou na vida pessoal — representa um novo meio para desenvolver essa capacidade tão humana que é a de pensar sobre o próprio pensamento.


Referências

HOLMES, Wayne et al. Ethics and risks of artificial intelligence in education. Nature Machine Intelligence, v. 4, p. 5–7, 2022.

LUCKIN, Rose et al. Intelligence unleashed: An argument for AI in education. Pearson Education, 2016.

POSNER, Michael I.; ROTHBART, Mary K. Research on attention networks as a model for the integration of psychological science. Annual Review of Psychology, v. 58, p. 1–23, 2007.

SCHRAW, Gregory; MOSHMAN, David. Metacognitive theories. Educational Psychology Review, v. 7, n. 4, p. 351–371, 1995.

ZIMMERMAN, Barry J. Attaining self-regulation: A social cognitive perspective. In: BOEKAERTS, Monique; PINTRICH, Paul R.; ZEIDNER, Moshe (org.). Handbook of Self-Regulation. San Diego: Academic Press, 2000. p. 13–39.

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